O feliz triste final.
Meses haviam se passado desde que ele fora embora da cidade. Depois de literalmente abandonar Charles e quase ter uma recaída (dificilmente se recuperando), Erik finalmente voltava aquele lugar, que aparentemente não mudara em nada. A praça continuava lotada, os carros ainda eram mal estacionados e o cheiro de cigarro e a fumaça ainda tomava conta dos bares.
Lar doce lar.
Tirando um papel dobrado ao meio de dentro do casaco, ele conferiu uma última vez o endereço do local para onde iria. Era um estabelecimento velho e acabado, todos reconheciam isso, mas sua missão lá não se deixaria abalar por poeira no chão, nem por nada no mundo; Erik havia decidido voltar, ele estava pronto para qualquer coisa que se colocasse em seu caminho, no caminho dele e de Charles.
No caminho ele inspirava fundo o ar frio, porém agradável, do fim de inverno, e observava tudo com admiração, tentando recuperar as informações que perdera sobre aquele lugar. Ele já estava chegando e a tensão e o nervosismo o fazia suar frio.
Curvando algumas ruas a pé, a velha placa de madeira entalhada surgiu em sua visão, trazendo um sorriso a seus lábios. Definitivamente, não tinha volta, ele teria que fazer aquilo.
E então ele respirou o ar puro mais uma vez, e abriu a porta.
O teatro estava lotado, e em cima do palco uma figura solitária detia toda a atenção do público, vestindo o tradicional traje composto por cartola e colete listrado, manuseando algo colorido em suas mãos. Erik o observou por longos minutos, matou a saudade com os olhos, em pé nos fundos do local, até que um atendente chamou sua atenção, pedindo o ingresso.
Entregando o ticket ao recepcionista, ele se dirigiu a seu lugar, bem perto do palco, na segunda fileira do meio.
- O mais próximo possível. -sussurrou em uníssono com aquele que agora era o foco das atenções.
...
As luzes se apagaram e as longas cortinas de seda vermelha
finalmente se fecharam, deixando o palco completamente escuro. Charles
apoiou-se na pequena mesa de madeira e respirou fundo, massageando as têmporas
e mergulhando em pensamentos. Erik havia acabado de participar do seu show,
isso ou ele estava enlouquecendo e vendo rostos por aí. A frase “Não pode ser
ele” se repetia incessantemente em sua cabeça. Ele estava tentando se convencer
que se enganara, que de tanto driblar as propriedades mentais alheias, sua
própria sanidade havia sido prejudicada.
Vários assistentes de palco se agitavam ao seu redor,
guardando seus trajes e removendo a maquiagem em camarins improvisados. As
luzes eram removidas de suas hastes no teto e as maquinas de fumaça desligadas, durante
tudo isso, um pequeno rádio antigo em cima da mesa tocava uma música animada de forma quase inaudível, e o som não era notado pelo rapaz, suava frio e encarava o chão, pensando.
Vários minutos depois, assim que a música parou e as últimas pessoas se despediram e fecharam a porta dos fundos, Charles finalmente saiu de seu transe e levantou os olhos para o lugar. O teatro estava vazio e as cortinas já haviam sido abertas novamente; as luzes, ainda acesas e criando sombras pelas paredes atribuiriam um ar macabro a tudo se a mente dele não estivesse focada em outra coisa: Erik.
Ele olhou para o fundo do lugar, uma mínima chama de esperança queimando dentro de si, mas notou que nas últimas cadeiras não havia ninguém, nem na porta de entrada, que dava abertura para um longo salão iluminado, onde seria possível ver uma pessoa claramente. Nada,nenhum som, ninguém além dele.
Um vento gelado irrompeu por essa entrada, e pareceu trazer um sopro de consciência a ele. Charles desceu da mesa onde estava sentado para pegar seu casaco e arrumar sua bolsa, conclui que estava delirando, afinal de contas. A realidade no momento era simples e ele devia encará-la: Erik jamais voltaria e Raven chegaria em uma hora, o que dava a ele tempo para organizar tudo no mínimo quatro vezes e, quem sabe, depois, beber no quarto dos fundos para esquecer o outro fato.
Ele virou de costas para as poltronas, ajoelhou-se no chão e abriu sua mochila de sempre, colocando os menores objetos nela. Quando, ainda concentrado em fechar a bolsa, ele esticou sua mão para a mesa onde estava até agora o rádio, seus dedos tocaram o vazio, e em seguida um som de estática cortou o silêncio.
Seus olhos se direcionaram relutantes ao ruído e ele pôde vislumbrar uma alta figura loira acima de si girando a pequena alavanca ao lado do objeto, mudando as estações de música.
O choque do momento em que vira aquele homem pela primeira vez no dia voltou, assim como o frio na barriga e o aperto no peito. Charles levantou-se lentamente, ficando de frente para ele, com o punho cerrado. Enfrentando bravamente o nó em sua garganta, ele conseguiu pronunciar poucas palavras.
-Não funciona mais. -Sua voz saíra firme e séria, escondendo o desejo dele de socar o rosto daquele em sua frente e logo depois abraçá-lo o mais forte possível. Ele agora era um adulto, devia agir como tal e superar o passado.
-Eu sei. -Erik respondeu quase que em um sussurro, e estendeu a mão que segurava o rádio para Charles, que o pegou e encarou por alguns segundos até puxar a alça da bolsa, colocando-a no ombro e guardando o aparelho no bolso da frente.
E então o silêncio voltou. Os dois ficaram ali, encarando o chão. Erik se jurava preparado para aquele momento, mas agora sua mente estava vazia, ele não sabia o que dizer. Charles esforçava-se ao máximo para engolir o nó que só aumentava em sua garganta, e cravava cada vez mais as unhas curtas na palma da mão.
O loiro levantou os olhos e ficou observando aquele em sua frente, vendo agora mais de perto seus tão amados dois cristais azuis, que então o encaravam de volta.
Um ano atrás, naquele mesmo palco, eles estavam dançando uma música feliz num rádio que ainda funcionava, com uma química palpável no ar. Agora, todos os sentimentos restantes eram arrependimento, saudade e alegria encoberta por tristeza.
Aquilo não deveria terminar assim.
Charles arrumou a alça de couro em seu braço e girou nos calcanhares, andando lentamente até a saída, ainda encarando o piso de madeira escura. "Vá se foder", ele pensou em dizer e então sair pelos fundos, trancando a porta, mas sabia que não era sincero. A vontade dele naquele momento era aninhar-se novamente nos braços de Erik e dizer que estava tudo bem. Ele era um idiota por se deixar abandonar e depois correr atrás daquele que pisoteou em seu coração, sim, ele era. Mas o amor é a maior idiotice de todos os tempos, e o fez parar no meio do caminho.
Em seu interior uma batalha era travada, como duas vozes sussurrando em seus ouvidos coisas opostas: Uma mandando-o ir embora e superar aquilo, a outra dizendo que ele devia perdoar o homem atrás de si. Ele não sabia qual escutar.
-Quando sair, por favor, apague as luzes. -Lá estava Charles Xavier, jogando as cartas na mesa, ouvindo o lado de si que parecia mais errado.
Ele se dirigiu á porta, e quando tocou a maçaneta, ouviu a voz de Erik soar pelo teatro vazio.
-Me desculpe. -Os olhos verdes lacrimejavam e ele encarava tudo, menos aquele em sua frente, que parou com a mão no objeto de metal, ouvindo-o. -Sinceramente, me desculpe, por favor, por tudo. Eu sou um idiota, sempre fui, e pensei que sua vida melhoraria sem mim. Sempre me vi como um peso morto pra você, Charles. Você, o cara inteligente da história, fazia faculdade, trabalhava e cuidava da sua irmã, eu era só um mágico falido, entrando em depressão. Eu estava chegando no fundo do poço e tive medo de te arrastar 'pra lá comigo. Te imploro, tente entender. Eu convivi dias com você, um mês e meio, dois, não importa, você fez o tempo parar para mim e eu joguei isso no lixo por puro egoísmo, só notei o quanto você valia para mim quando o perdi. Eu te...
-Não.Fale.-A bolsa de Charles caíra no chão, interrompendo Erik com o estrondo.
Ele se virou lentamente para o outro, agora fazendo com que ficassem de frente, e se aproximou lentamente. - Você é um completo idiota.
Eles estavam a dois, talvez três metros um do outro. O mais velho, completamente estático com as últimas palavras que ouviu, encarava Charles incrédulo. Esse que balançou a cabeça, sorrindo ironicamente, e completou, aproximando-se mais.
-Um completo idiota...
E quando menos esperava, Erik sentiu o punho fechado do outro contra sua bochecha, o impacto levando-o a apoiar-se na mesa. Ele levou a mão a área, que ficaria inchada depois, e quando virou-se para Charles novamente, viu a mão direita vindo novamente em sua direção bem a tempo de segurá-la, antes que o acertasse novamente e deixasse mais marcas roxas.
Agora com a proximidade e a visão recuperada, Erik pôde ver que ele chorava.
Charles abriu e fechou a mão sob o aperto do outro, e levou-a ao peito do mesmo. Com as lágrimas já rolando sem parar por sua face, ele encaixou seu rosto na curva do pescoço de Erik, relembrando o cheiro do perfume adocicado.
-Seu..Idiota. -O nó em sua garganta se desfizera, e suas mãos, agora livres, rodearam o corpo do outro, abraçando-o o mais forte que podia, o que foi correspondido em mesma proporção. Eles ficaram ali, colados um ao outro, matando a saudade do cheiro, do toque, do sabor que conheciam e amavam. A química só não bastava, agora havia amor, sempre houve.
-Eu te amo.
E dessa vez Charles permitiu que ele falasse, respondendo um "Eu também" abafado, e pressionando seus corpos cada vez mais contra a mesa.
A alguns metros dali, uma Raven sorridente observava a cena, escondida atrás da porta. Seu irmão voltaria a sorrir como antes, ela tinha certeza, a razão da felicidade dele estava em seus braços novamente. Ela pegou a bolsa do irmão silenciosamente, arrastando-a para fora e indo para casa. Não interromperia o que estava acontecendo.
Vários minutos depois, assim que a música parou e as últimas pessoas se despediram e fecharam a porta dos fundos, Charles finalmente saiu de seu transe e levantou os olhos para o lugar. O teatro estava vazio e as cortinas já haviam sido abertas novamente; as luzes, ainda acesas e criando sombras pelas paredes atribuiriam um ar macabro a tudo se a mente dele não estivesse focada em outra coisa: Erik.
Ele olhou para o fundo do lugar, uma mínima chama de esperança queimando dentro de si, mas notou que nas últimas cadeiras não havia ninguém, nem na porta de entrada, que dava abertura para um longo salão iluminado, onde seria possível ver uma pessoa claramente. Nada,nenhum som, ninguém além dele.
Um vento gelado irrompeu por essa entrada, e pareceu trazer um sopro de consciência a ele. Charles desceu da mesa onde estava sentado para pegar seu casaco e arrumar sua bolsa, conclui que estava delirando, afinal de contas. A realidade no momento era simples e ele devia encará-la: Erik jamais voltaria e Raven chegaria em uma hora, o que dava a ele tempo para organizar tudo no mínimo quatro vezes e, quem sabe, depois, beber no quarto dos fundos para esquecer o outro fato.
Ele virou de costas para as poltronas, ajoelhou-se no chão e abriu sua mochila de sempre, colocando os menores objetos nela. Quando, ainda concentrado em fechar a bolsa, ele esticou sua mão para a mesa onde estava até agora o rádio, seus dedos tocaram o vazio, e em seguida um som de estática cortou o silêncio.
Seus olhos se direcionaram relutantes ao ruído e ele pôde vislumbrar uma alta figura loira acima de si girando a pequena alavanca ao lado do objeto, mudando as estações de música.
O choque do momento em que vira aquele homem pela primeira vez no dia voltou, assim como o frio na barriga e o aperto no peito. Charles levantou-se lentamente, ficando de frente para ele, com o punho cerrado. Enfrentando bravamente o nó em sua garganta, ele conseguiu pronunciar poucas palavras.
-Não funciona mais. -Sua voz saíra firme e séria, escondendo o desejo dele de socar o rosto daquele em sua frente e logo depois abraçá-lo o mais forte possível. Ele agora era um adulto, devia agir como tal e superar o passado.
-Eu sei. -Erik respondeu quase que em um sussurro, e estendeu a mão que segurava o rádio para Charles, que o pegou e encarou por alguns segundos até puxar a alça da bolsa, colocando-a no ombro e guardando o aparelho no bolso da frente.
E então o silêncio voltou. Os dois ficaram ali, encarando o chão. Erik se jurava preparado para aquele momento, mas agora sua mente estava vazia, ele não sabia o que dizer. Charles esforçava-se ao máximo para engolir o nó que só aumentava em sua garganta, e cravava cada vez mais as unhas curtas na palma da mão.
O loiro levantou os olhos e ficou observando aquele em sua frente, vendo agora mais de perto seus tão amados dois cristais azuis, que então o encaravam de volta.
Um ano atrás, naquele mesmo palco, eles estavam dançando uma música feliz num rádio que ainda funcionava, com uma química palpável no ar. Agora, todos os sentimentos restantes eram arrependimento, saudade e alegria encoberta por tristeza.
Aquilo não deveria terminar assim.
Charles arrumou a alça de couro em seu braço e girou nos calcanhares, andando lentamente até a saída, ainda encarando o piso de madeira escura. "Vá se foder", ele pensou em dizer e então sair pelos fundos, trancando a porta, mas sabia que não era sincero. A vontade dele naquele momento era aninhar-se novamente nos braços de Erik e dizer que estava tudo bem. Ele era um idiota por se deixar abandonar e depois correr atrás daquele que pisoteou em seu coração, sim, ele era. Mas o amor é a maior idiotice de todos os tempos, e o fez parar no meio do caminho.
Em seu interior uma batalha era travada, como duas vozes sussurrando em seus ouvidos coisas opostas: Uma mandando-o ir embora e superar aquilo, a outra dizendo que ele devia perdoar o homem atrás de si. Ele não sabia qual escutar.
-Quando sair, por favor, apague as luzes. -Lá estava Charles Xavier, jogando as cartas na mesa, ouvindo o lado de si que parecia mais errado.
Ele se dirigiu á porta, e quando tocou a maçaneta, ouviu a voz de Erik soar pelo teatro vazio.
-Me desculpe. -Os olhos verdes lacrimejavam e ele encarava tudo, menos aquele em sua frente, que parou com a mão no objeto de metal, ouvindo-o. -Sinceramente, me desculpe, por favor, por tudo. Eu sou um idiota, sempre fui, e pensei que sua vida melhoraria sem mim. Sempre me vi como um peso morto pra você, Charles. Você, o cara inteligente da história, fazia faculdade, trabalhava e cuidava da sua irmã, eu era só um mágico falido, entrando em depressão. Eu estava chegando no fundo do poço e tive medo de te arrastar 'pra lá comigo. Te imploro, tente entender. Eu convivi dias com você, um mês e meio, dois, não importa, você fez o tempo parar para mim e eu joguei isso no lixo por puro egoísmo, só notei o quanto você valia para mim quando o perdi. Eu te...
-Não.Fale.-A bolsa de Charles caíra no chão, interrompendo Erik com o estrondo.
Ele se virou lentamente para o outro, agora fazendo com que ficassem de frente, e se aproximou lentamente. - Você é um completo idiota.
Eles estavam a dois, talvez três metros um do outro. O mais velho, completamente estático com as últimas palavras que ouviu, encarava Charles incrédulo. Esse que balançou a cabeça, sorrindo ironicamente, e completou, aproximando-se mais.
-Um completo idiota...
E quando menos esperava, Erik sentiu o punho fechado do outro contra sua bochecha, o impacto levando-o a apoiar-se na mesa. Ele levou a mão a área, que ficaria inchada depois, e quando virou-se para Charles novamente, viu a mão direita vindo novamente em sua direção bem a tempo de segurá-la, antes que o acertasse novamente e deixasse mais marcas roxas.
Agora com a proximidade e a visão recuperada, Erik pôde ver que ele chorava.
Charles abriu e fechou a mão sob o aperto do outro, e levou-a ao peito do mesmo. Com as lágrimas já rolando sem parar por sua face, ele encaixou seu rosto na curva do pescoço de Erik, relembrando o cheiro do perfume adocicado.
-Seu..Idiota. -O nó em sua garganta se desfizera, e suas mãos, agora livres, rodearam o corpo do outro, abraçando-o o mais forte que podia, o que foi correspondido em mesma proporção. Eles ficaram ali, colados um ao outro, matando a saudade do cheiro, do toque, do sabor que conheciam e amavam. A química só não bastava, agora havia amor, sempre houve.
-Eu te amo.
E dessa vez Charles permitiu que ele falasse, respondendo um "Eu também" abafado, e pressionando seus corpos cada vez mais contra a mesa.
A alguns metros dali, uma Raven sorridente observava a cena, escondida atrás da porta. Seu irmão voltaria a sorrir como antes, ela tinha certeza, a razão da felicidade dele estava em seus braços novamente. Ela pegou a bolsa do irmão silenciosamente, arrastando-a para fora e indo para casa. Não interromperia o que estava acontecendo.