E minha rotinha seguia. Sozinha na rua, no escuro,caminhando o mais devagar que podia em direção ao pequeno prédio verde-musgo onde morava.
Eu havia me mudado fazia 1 ano. Quando cheguei, a "quase pensão" expremida entre duas construções antigas pareceu perfeita, aconchegante e escondida numa rua composta por moradias, cafeterias e lanchonetes.Meus vizinhos então?Simpáticas senhoras e homens viciados em futebol. Um deles inclusive, tinha como passa-tempo favorito me perturbar, era um inglês de olhos escuros e cabelos loiros, vivia bêbado e parecia cultivar uma paixão incurável por mim.Meu apartamento era minúsculo, com espaço apenas para uma cama e todo o resto. Era mais do que eu precisava, sem dúvidas...
Abri a pesada porta de ferro que rangeu exageradamente, e subi as escadas encarando a pequena peça de metal que rodava entre meus dedos. Era um detalhe idiota, mas cômico; as chaves tinham inúmeras curvas, e cada uma era feita especialmente para seu dono.A minha, tinha um circulo que se destorcia, formando uma letra A enorme no meio.
No segundo andar, em frente ao meu quarto provisório, jogada na porta, havia mais uma "declaração de amor" de um estranho qualquer que vivia pregando peças nos moradores. Era simples, quando a iludida donzela abrisse a bela e pesada (detalhe que ninguém percebia) carta cor de rosa, BANG! Um mecanismo feito com molas e uma bateria daqueles bonecos de 1,99 jogava uma rolha no meio da testa da pobre coitada.Sabe-se lá como ele ou ela fazia aquilo funcionar de forma tão mortal, mas sempre que via do algo tipo só podia imaginar um gênio incompreendido usando sua inteligência de forma errada.
Entrei no apertado e claro espaço que era obrigada a chamar de lar logo depois de rasgar o papel ao meio e jogar o "motor" no lixo. Meu gato Caroll estava deitado em um travesseiro qualquer jogado no chão, para variar. Era um macho, por mais que o nome engane, um belo persa cinza escuro. O peguei no colo e fui em direção ao armário, logo pegando uma xícara de café da velha cafeteira de plástico e jogando o pesado casaco preto em cima da cama improvisada.Era inverno, eu jamais reclamaria, sempre foi minha estação favorita, desde pequena.
Sentei no macio colchão posto de qualquer forma em cima de uma mesa, refletindo sobre mais um dia tedioso que havia se passado. Trabalho, almoço, trabalho, café para não dormir, mais trabalho.
Comecei o que meu patrão chamava de "estágio" numa livraria perto do centro quando me mudei para Florença.O lugar era bem movimentado e o caminho até lá era longo, mas por minha sorte haviam ruas que serviam de atalho.
Isso sem contar que, em um dos meus horários de descanso, recebi a notícia de que mais uma funcionária estava noiva.Todas elas estavam, na verdade, todas menos eu. Jovens entre 20 e 26 anos já prometidas a alguém pro resto da vida, uma grande tolice.
Claro que não digo prometidas como um pesar, como se eu mesma já tivesse tido muitos namorados, muito pelo contrário.Relacionamentos são para tolos, pura perca de tempo, apenas isso. E essas conclusões não foram tiradas de inúmeras decepções amorosas, mas sim de nenhuma, absolutamente nenhuma.
Isso mesmo, apresento-lhes uma jovem de 23 anos, que nunca sequer beijou um cara. O problema não era eles, e sim eu, por mais que isso soe clichê.
Dificuldade para gostar de alguém, para fazer amigos,ah...Ela sempre esteve presente.
Acordei dos meus devaneios antes que tivesse outra recaída em menos de dois meses, e mesmo sem ter notado, já havia bebido todo o café. Me levantei conformada com a falta do que fazer e fui tomar banho no cubículo com uma banheira. A água estava simplesmente escaldante, perfeita.
Quando acabei, coloquei um moletom qualquer jogado no fundo de uma caixa e apaguei as luzes. Virei para todos os lados, tentei todas as posições, a insônia se fez presente mais uma noite.
Peguei um livro dentro da minha mochila, um suspense qualquer, e li, li até meu olhos clamarem por descanso. No limiar da minha energia acabei cedendo, então o coloquei em cima de uma cômoda, me cobrindo com um pesado cobertor de patchwork que ganhei de uma amiga muitos anos antes.
Colei as pálpebras na esperança de ter uma noite de sono tranquilo, mas o que pareceu ser menos de um minuto depois, a tela do meu celular acendeu e uma doce sinfonia tomou conta do quarto.
Já eram 6 horas, eu tinha que levantar.
Um comentário:
Você escreve mt bem. Escreva mais... =D
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